A Umbanda foi anunciada no dia 15 de Novembro de 1908 pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, através de seu médium Zélio Fernandino de Moraes.
Chegou ao plano material como uma via evolutiva em que muitos irmãos espirituais podem se manifestar para a prática da caridade espiritual.
Possui influências da pajelância indígena, do culto africano aos Sagrados Orixás, do catolicismo, da religiosidade oriental, porém é 100% brasileira.
"A Umbanda é uma religião espiritualista que ensina que a vida é eterna e que a nossa curta passagem aqui no plano material destina-se à evolução, ao aperfeiçoamento e à conscientização dos espíritos."
Rubens Saraceni
Antes de começarmos a contar capítulos da história da Umbanda e como tudo começou, melhor sabermos de onde vem esta palavra: Umbanda. Umbanda é uma palavra de origem Kimbundu idioma bantu (o kimbundu faz parte de uma grande família de línguas africanas e é uma das línguas tradicionais da Angola). Nas terras bantas africanas Umbanda significa a “arte de curar”, ou “o culto pelo qual o sacerdote curava”, também pode servir como sacerdote, curador, o que cuida de um grupo espiritual, o líder espiritual. Entendam que a palavra Umbanda já existia antes da religião se concretizar no plano material, de ser anunciada, mas ela tinha um significado diferente da palavra Umbanda para nós. Muitos já discutiram e deram suas visões pessoais sobre o que é Umbanda, mas no nosso seguimento de Umbanda Sagrada dizemos: Umbanda é o UM + BANDA, Cada um de nós somos UM que formamos esta grande BANDA de Amor, Fé e União Fraternal. O Caboclo das 7 Encruzilhadas, entidade que anunciou a Umbanda, dizia: Umbanda é a manifestação do espírito para a prática da caridade. Nós também concordamos com esta afirmação, mesmo que se restrinja literalmente à palavra caridade. Entendemos que a Umbanda é uma via evolutiva muito maior do que uma religião, é uma forma de pensar e ser que nos conduz à nossa origem divina.
Dito isto, seguiremos com a história da Umbanda.
No final de 1908, Zélio Fernandino de Moraes, um jovem rapaz com 17 anos de idade, que se preparava para ingressar na carreira militar na Marinha, começou a sofrer estranhos “ataques”. Sua família, conhecida e tradicional na cidade de Niterói, estado do Rio de Janeiro, foi pega de surpresa pelos acontecimentos. Esses “ataques” do rapaz eram caracterizados por posturas de um velho, falando coisas sem sentido e desconexas, como se fosse outra pessoa que havia vivido em outra época. Muitas vezes assumia uma forma que parecia um índio, um matuto desembaraçado que mostrava conhecer muitas coisas da natureza. Após examiná-lo durante vários dias, o médico da família recomendou que seria melhor encaminhá-lo a um padre, pois o médico (que era tio do paciente), dizia que a loucura do rapaz não se enquadrava em nada que ele havia conhecido. Acreditava mais, era que o menino estava endemoniado. Zélio neste momento já em franca piora física fica de cama e não consegue mais andar. Padre, benzedeiros, nada fazia efeito. O menino continuava a sofrer os surtos psicóticos e a não poder andar.
14 de Novembro de 1908, o menino diz: Amanhã eu levantarei desta cama e estarei curado. Seus familiares ficam boquiabertos, mas desacreditam por acharem que Zélio estava sofrendo mais um surto sem sentido. No dia seguinte ele se levanta e está curado! Novo em folha! Depois de meses numa cama sem poder andar, o menino se movimenta sem ajuda aparentando total equilíbrio físico e emocional. Sem ter explicação para o fato, alguém da família sugeriu que “isso era coisa de espiritismo” e que era melhor levá-lo à Federação Espírita de Niterói, presidida na época por José de Souza. Neste mesmo dia, 15 de Novembro de 1908, o jovem Zélio foi convidado a participar da sessão, tomando um lugar à mesa. Tomado por uma força estranha e alheia a sua vontade, e contrariando as normas que impediam o afastamento de qualquer dos componentes da mesa, Zélio levantou-se e disse: “Aqui está faltando uma flor”. Saiu da sala indo ao jardim e voltando após com uma flor, que colocou no centro da mesa. Essa atitude causou um enorme tumulto entre os presentes. Restabelecidos os trabalhos, manifestaram-se nos médiuns kardecistas espíritos que se diziam pretos escravos e índios. O diretor dos trabalhos achou tudo aquilo um absurdo e advertiu-os com aspereza, citando o “seu atraso espiritual” e convidando-os a se retirarem. Após esse incidente, novamente uma força estranha tomou o jovem Zélio e através dele falou: “Porque repelem a presença desses espíritos, se nem sequer se dignaram a ouvir suas mensagens. Será por causa de suas origens sociais e da cor?” Seguiu-se um diálogo acalorado, e os responsáveis pela sessão procuravam doutrinar e afastar o espírito desconhecido, que desenvolvia uma argumentação segura. Um médium vidente perguntou: “Por que o irmão fala nestes termos, pretendendo que a direção aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram, quando encarnados, são claramente atrasados? Por que fala deste modo, se estou vendo que me dirijo neste momento a um jesuíta e a sua veste branca reflete uma aura de luz? E qual o seu nome irmão?
“Se querem um nome, que seja este: Sou o Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque para mim, não haverá caminhos fechados.”
“O que você vê em mim, são restos de uma existência anterior. Fui padre e o meu nome era Gabriel Malagrida. Acusado de bruxaria fui sacrificado na fogueira da Inquisição em Lisboa, no ano de 1761. Mas em minha última existência física, Deus concedeu-me o privilégio de nascer como caboclo brasileiro.” Anunciou também o tipo de missão que trazia do Astral:
“Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã (16 de novembro) estarei na casa de meu aparelho, às 20 horas, para dar início a um culto em que estes irmãos poderão dar suas mensagens e, assim, cumprir missão que o Plano Espiritual lhes confiou.
“Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados.”
O vidente retrucou: “Julga o irmão que alguém irá assistir a seu culto”? Perguntou com ironia. E o espírito já identificado disse: “Cada colina de Niterói atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei”.
Para finalizar o caboclo completou: “Deus, em sua infinita Bondade, estabeleceu na morte, o grande nivelador universal, rico ou pobre, poderoso ou humilde, todos se tornariam iguais na morte, mas vocês, homens preconceituosos, não contentes em estabelecer diferenças entre os vivos, procuram levar essas mesmas diferenças até mesmo além da barreira da morte. Porque não podem nos visitar esses humildes trabalhadores do espaço, se apesar de não haverem sido pessoas socialmente importantes na terra, também trazem importantes mensagens do além?”.
No dia seguinte, na casa da família Moraes, ao se aproximar a hora marcada, 20:00h, lá já estavam reunidos os membros da Federação Espírita para comprovarem a veracidade do que fora declarado na véspera; estavam os parentes mais próximos, amigos, vizinhos e, do lado de fora, uma multidão de desconhecidos.
Às 20:00h, manifestou-se o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Declarou que naquele momento se iniciava uma nova religião de Amor, Fé e Caridade Espiritual.
*Imagens: Camasi Guimarães
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